Não são mais novidades, nem tão recentes, os estudos e as discussões que garantem a importância da Literatura Infantil e da Contação de Histórias como grandes aliadas na promoção da leitura. Cabe ressaltar, porém, que nem toda ação carregada de boa vontade é suficiente para a concretização de tal tarefa. Já há muito foi constatado o fato de que as crianças apreciam uma boa história e se prestam a ouvi-la e, na maior parte das vezes, o fazem com grande interesse. Se não continuam a querer ouvir histórias, razão outra não é que a forma ingênua e/ou descompromissada de como o contador a conduz ou, de como caminha o processo da seleção e análise dessas narrativas.
Não se pode mais imaginar que o problema da literatura na sala de aula, esteja ainda relacionado à necessidade de afirmação da mesma como processo de aprendizagem indispensável no mundo infantil, muito menos, pode-se acreditar na idéia de que algum educador não se tenha convencido de sua real importância junto aos educandos. Só resta observar que a grande lacuna em relação ao trabalho com a literatura destinada às crianças reside mesmo na falta de uma base sólida na formação de leitor dos educadores, já inserida num processo cultural que, raríssimas vezes, privilegia a pesquisa e a formação continuada do professor.
Um dos aspectos essenciais para iniciar a discussão neste universo da leitura e da contação de histórias, diz respeito à qualidade dos textos selecionados e os critérios que norteiam esta análise e sua posterior proposta de contação. Textos selecionados com uma visão simplista, distorcida, utilitarista, sem aprofundamento do universo infantil ou mesmo o desconhecimento dos mecanismos de aprendizagem, dificultam um efetivo trabalho com a leitura da literatura, cuja implementação, embora pautada em incontáveis esforços, tem seus méritos e já é bastante aceita por uma grande parcela da sociedade que assumiu e acreditou no desafio. Ainda que haja muito para fazer, basta observar as inúmeras prateleiras destinas à literatura infantil nas livrarias e bibliotecas de muitas cidades brasileiras. Falta, efetivamente, muito estudo e leitura (também leitura das teorias) para que se faça um levantamento de critérios para análise e seleção desse farto material. Pena que muitos educadores ainda precisem de manual de instrução!
Se não está aí, o problema pode estar também nas propostas de exploração lúdica do texto lido ou contado, uma vez que, o trabalho posterior à realização da leitura ou contação pode invalidar todo o processo anterior. Novamente a visão utilitarista, pedagogizante e/ou moralizante da literatura, especialmente, a destinada às crianças, nos leva aqueles velhos e conhecidos caminhos: as inesquecíveis provas de interpretação, os questionários de entendimento do texto, “agora é sua vez de contar a história”, o preenchimento de páginas e mais páginas de caderno destacando aspectos óbvios da leitura sem, no entanto, isto nada significar ao aluno. Até mesmo as dramatizações que as crianças tanto gostam acabam sendo chatas e enfadonhas, já que as propostas nada mais são do que a repetição de tudo aquilo que já foi lido ou contado.
Para um trabalho efetivo, alternativo e, ao mesmo tempo dinâmico com a leitura e a contação de histórias, é imprescindível que o próprio educador possa ressignificar sua experiência pessoal com a narrativa. Garimpar boas histórias, não importa se populares ou literárias. Freqüentar assiduamente a biblioteca. Colecionar narrativas ouvidas na região onde mora e/ou trabalha. Enfim, a relação atuante das histórias em sua vida é a chave que pode contribuir para aumentar seu repertório. Também a formação de grupos de pesquisa para leitura e seleção de textos é importantíssima, uma vez que, possibilita a constante atualização e a troca de experiências.
Basta alçar vôo, firmar parcerias, investir em leitura. É necessário abrir urgentemente outra página nessa história, cujos primeiros passos, os que dizem respeito à relevância do trabalho com leitura e contação de histórias já foram dados, agora, é seguir para o procedimento seguinte. Que tal?
Escrito pelo professor Cleber para uso, exclusivo, nas aulas de Contação de Histórias.