terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A caixa dos segredos


             Em uma sociedade que se deseja cada vez mais plural, multicultural e atenta às diferenças, Rogério Andrade Barbosa – pioneiro e expoente na literatura que versa sobre a temática africana e afro-brasileira – apresenta no livro A caixa dos segredos, Galera Record, 2010, a comovente história de luta e resistência de Malã.
            A partir da versão contada pelo tataraneto, o leitor conhece a vida do menino – batizado com o nome cristão Antônio – desde sua captura em terras africanas até a chegada no Brasil, acompanha a sua permanência no Rio de Janeiro e o breve tempo em que esteve na Bahia, passando por momentos históricos, culturais, sociais e políticos significativos para a população negra brasileira. A obra está dividida em quatro momentos de cruciais transformações na vida de nosso anônimo herói: infância, juventude, maturidade e velhice.
            Ao desvendar os segredos da caixa de metal forrada com recortes de jornal, o narrador-tataraneto revela a influência das missões católicas na África, dos convertidos ao islamismo e das religiões tradicionais africanas que são apresentadas a partir das vivências de Malã. Os importantes episódios conhecidos por Revolta dos Malês e das Chibatas, a abolição da escravatura, a chegada de imigrantes europeus para substituir o trabalho escravo e mesmo as recentes lutas que culminaram em “leis obtidas graças ao empenho dos movimentos negros organizados” são envolvidos pelo autor nas tramas do enredo.
            A sabedoria popular está presente nos provérbios africanos que abrem os capítulos e dialogam com termos mais esclarecedores (e mais científicos) trazidos pelos novos vocábulos utilizados e, em seguida, explicados em seu contexto. Um livro de rápida leitura, com linguagem concisa e que permite uma abordagem panorâmica para o principiante no tema e envolvente para os iniciados.

             
            
FICHA TÉCNICA:

A caixa dos segredos
Autor: Rogério Andrade Barbosa
Ilustrador: Gerson Conforti
Editora: Galera Record
Ano: 2010

sábado, 27 de agosto de 2011

Tudo azul...

            ♫ ♪ ¶ ♫ Lá lá lá lá lá ... ♪♫ ¶

            O que é um pontinho azul no meio da floresta? E o que seriam vários desses mesmos pontinhos azuis em Manhattan? Não adivinhou? Talvez você não tenha lido no final da década de 50 os quadrinhos com os personagens criados pelo belga Pierre Culliford, conhecido por Peyo. Não!? Então, certamente assistiu nos anos 80 a série de desenhos animados produzida pela Hanna Barbera. Também não? Ainda tem tempo: corra aos cinemas para conhecer o longa-metragem com os encantadores duendes azuis que atendem pelo nome de smurfs. 

            Por conta das situações embaraçosas criadas por Desastrado, os Smurfs escapam da aldeia na floresta onde moram e vão parar em Nova York, invadindo a casa e o escritório do publicitário Patrick e sua esposa. Perseguidos por Gargamel e seu gato Cruel em cenas hilárias, precisam esperar pela Lua Azul para retornarem ao lar.

            Interessantes os diálogos e a troca de experiências sobre a paternidade entre Patrick – que brevemente será papai – com o líder do bando, Papai Smurf de 546 anos de idade. Outro aspecto a perceber são os afetamentos que os pequenos seres deixaram na vida “e no cogumelo” dos protagonistas reais, bem como, a transformação operada na pequena aldeia dos smurfs após a passagem do grupo pela Big Apple.

            Na moderna versão em 3D, Desastrado, Arrojado, Smurfette, Gênio, Papai Smurf e Narrador divertem as crianças e deixam saudosistas os adultos com o campo semântico abrangente que o vocábulo smurf pode significar. Se você não se irritar com a música ou com o excesso de merchandising, a dica é boa e vale pela pitada de beleza, leveza e encantamento...         

            Boa smurf sessão!

            ♫ ♪ ¶ ♫ Lá lá lá lá lá ... ♪♫ ¶

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Smurfs
Direção: Raja Gosnell
Duração: 102min.
Gênero: Animação infantil
Lançamento: agosto 2011

Hans Christian Andersen - pai da Literatura Infantil

            Hans Christian Andersen nasceu em Odense, Dinamarca, em 2 de abril de 1805 e faleceu em Copenhague no dia 04 de agosto de 1875. De família simples e com poucas posses, o pai era sapateiro e a mãe lavadeira. Apesar de ter perdido o pai aos onze anos, dele recorda as leituras de La Fontaine, da Bíblia e d’As mil e uma noites. Passava muito tempo sozinho em casa e nesses momentos de solidão brincava com um teatrinho que o pai lhe tinha feito, costurava as roupas das suas bonecas e distraia-se a ler poesias dramáticas. Era apaixonado pela obra de Shakespeare e vivia a cantar e recitar.

            Aos quatorze anos, sem recursos, instrução e sozinho parte para Copenhague em busca de prestígio no mundo cultural. Após tentativas frustradas no teatro, canto e dança, recebeu a ajuda de Jonas Collin, diretor do Teatro Real, através do qual obteve uma bolsa de estudos para que pudesse terminar o secundário. Aos dezessete anos, desajeitado e com maneiras estranhas, Andersen frequentou a escola ao lado de crianças de doze anos e sofreu com as zombarias de seus colegas.

            Graças também a Jonas Collin, concluiu seus estudos na Universidade de Copenhague. De personalidade romântica, sonhadora e complexa, o artista que viria a ser aclamado em todo o mundo conheceu bastante dele e escreveu suas impressões sobre os lugares e pessoas que encontrou. Em 1835 escreveu seus Contos para as crianças os quais receberam severas críticas, censurando seu estilo coloquial e a falta de moral para as crianças. Em 1855 escreveu O Conto de Fadas da minha vida, uma sucessão de relatos autobiográficos com reflexões extraordinárias da vida e obra de Andersen “Minha vida é um lindo conto de fadas”.  Em 1872 publicou seus últimos contos e continuou a viajar até 1873.

            Hans Christian Andersen possui 168 contos publicados e suas obras foram traduzidas em mais de oitenta idiomas. Seu legado converteu-se em um tesouro e fonte de inspiração para escritores, diretores de teatro e cinema, coreógrafos, escultores, pintores e para todos que desejarem ‘viajar’ em sua obra.     

            Era um homem romântico por natureza, escreveu das gentes em sua essência, de suas qualidades intrínsecas e, por esse motivo, sua escrita simples e apaixonada passa pelo coração. Seus textos são inesperados, possuem uma cor e luz próprias capazes de seduzir e encantar adultos e crianças. Sua obra é repleta de significados da existência humana e desnudamento do homem, o que a torna compreendida e amada por todos.

            Entre seus contos mais conhecidos estão: A Pequena Vendedora de Fósforos, A Pequena Sereia, A Princesa e o Grão de Ervilha, A Rainha das Neves, A Roupa Nova do Imperador, O Companheiro de Viagem, O Guardador de Porcos, O Patinho Feio, Polegarina, O Rouxinol e o Imperador da China, Sapatinhos Vermelhos, O Soldadinho de Chumbo.

Lobateando II



“Ah, Rangel, que mundos diferentes, o do adulto e o da criança! Por não compreender isso e considerar a criança “um adulto em ponto pequeno”, é que tantos escritores fracassam na literatura infantil e um Andersen fica eterno.”            
                                 
                    (A Barca de Gleyre)

domingo, 24 de julho de 2011

Contos para crianças e para o lar

 “Os contos infantis, com suas luzes puras e suaves, fazem nascer e crescer os primeiros pensamentos, os primeiros impulsos do coração. São também Contos do lar, porque neles a gente pode apreciar a poesia simples e enriquecer-se com sua verdade. E também porque eles duram no lar como herança que se transmite”.
                          Jakob e Wilhelm Grimm, 1812

GRIMM, Jakob e Wilhelm. Os contos de Grimm. Trad. Tatiana Belinky. São Paulo: Paulus, 2005.

Charles Perrault e os Contos da Mamãe Gansa

Sobre o autor

            Charles Perrault nasceu em Paris, em 1628, filho de uma nobre e tradicional família francesa, destacou-se nas áreas de arquitetura, teologia, literatura e direito. Aprendeu a ler no colo da mãe, o pai foi seu primeiro preceptor e, posteriormente, orientou-o nos estudos. Aluno inquieto e questionador abandonou o curso de Filosofia aos quinze anos e preparou-se sozinho para os exames de Direito: "Se sei alguma coisa, eu o devo particularmente aos três ou quatro anos de estudos feitos dessa maneira", escreveu ele em suas Memórias. Era inteligente, autêntico, alegre, irônico, entusiasmado com a vida e interessado por tudo.
            Além de advogado, trabalhou como coletor de impostos e divertia-se ao desenvolver decoração, projetar prédios e escrever versos. Teve sobre sua responsabilidade a escolha dos arquitetos do Palácio de Versalhes e do Museu do Louvre. Intelectual ativo, participou da grande polêmica dos autores modernos sobre os antigos. Casou-se com Marie Guichon com quem teve três filhos. Após aposentar-se dedicou seu tempo somente para a educação dos filhos e atividades literárias. Sua mulher faleceu no parto de Pierre – seu filho caçula – que foi apontado como autor da primeira edição dos contos de fadas reunidos por Perrault. Sem comprovação, no entanto, esse fato teria sido uma forma original do escritor para intrigar ou despistar seus contemporâneos. Morreu aos setenta e cinco anos de idade.

Sobre a obra:

            Em 1697, publica Contos do tempo passado com moralidades que trazia o subtítulo de Contos da Mamãe Gansa. Mãe Gansa era uma antiga personagem de narrativa popular que contava histórias para seus filhotes. Na edição original, ela aparece na ilustração sob a forma de uma velha fiandeira, tornando-se mundialmente conhecida.
            Com linguagem clara e desembaraçada, deu forma literária às histórias que corriam de boca em boca. De maneira ingênua e maliciosa, aproximou a cultura popular da elite e agrada crianças e adultos. Nos contos, introduziu conceitos morais, maneiras de interpretar o mundo e forneceu discussões familiares que pretendiam socializar, educar e civilizar as crianças. Escritos num tempo em que não existia o gênero Literatura Infantil, os Contos da Mãe Gansa obtiveram tanto êxito que acabaram imortalizados. São eles: A Bela Adormecida no Bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela, Henrique, o Topetudo e O Pequeno Polegar.

domingo, 3 de julho de 2011

Jogue suas tranças, Rapunzel

           Eternizada com ares literários pelas mãos dos habilidosos Irmãos Grimm (Jacob e Wilheim), no livro Contos para Crianças e para o Lar (1812), sem, no entanto, abandonar sua origem proveniente da tradição oral dos contos europeus, Rapunzel chega finalmente aos cinemas em gênero de animação infantil pelos Estúdios Disney. Enrolados, nome dado para a versão brasileira, conta a famosa história da menina de longos cabelos dourados aprisionada numa torre.
          O desenho contém a síntese do reconto, elementos seculares que garantem o bom enredo: uma madrasta possessiva, o aprisionamento de uma jovem na torre, a magia de seus cabelos compridos e, como não poderia faltar, uma história de amor com o tão esperado happy-end. Para a versão cinematográfica, o fio condutor ocorre através de um jovem que, em primeira pessoa, apresenta a trajetória de Rapunzel desde sua gênese, justificando através de invenções inteligentes e com sensibilidade detalhes não presentes na versão literária.
          Vale destacar na trama, animais que expressam virtudes capazes de surpreender o herói mais bem intencionado e o desabrochar de uma adolescente sonhadora, mas capaz de bancar os próprios sonhos e espalhar outros tantos.

Ficha Técnica:

Título original: Tangled

Direção: Nathan Greno, Byron Howard

Duração: 92 min.

Gênero: Animação

Lançamento: 2010 (Estados Unidos) – 2011 (Brasil)

sábado, 2 de julho de 2011

Lobateando

“Você me pede um conselho e atrevidamente eu dou o Grande Conselho: seja você mesmo, porque ou somos nós mesmos ou não somos coisa nenhuma. E para ser si mesmo é preciso um trabalho de mouro e uma vigilância incessante na defesa, porque tudo conspira para que sejamos meros números, carneiros de vários rebanhos – os rebanhos políticos, religiosos, estéticos. Há no mundo ódio à exceção – e ser si mesmo é ser exceção.”                   

A barca de Gleyre - Monteiro Lobato


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Existe Literatura Infantil?

"A Literatura Infantil faz parte dessa Literatura Geral? Pergunta a que se poderiam acrescentar mais esta: existe uma Literatura Infantil? Como caracterizá-la? Evidentemente, tudo é uma Literatura só. A dificuldade está em delimitar o que se considera como especialmente do âmbito infantil. São as crianças, na verdade, que o delimitam, com a sua preferência. Costuma-se classificar como Literatura Infantil o que para elas se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim classificar o que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma Literatura Infantil a priori, mas a posteriori".

                                                Cecília Meireles

A arte de fazer chover flores...


          Apesar das histórias contadas na África serem consideradas sagradas, a pequena Obax adorava correr pelas planícies e seu maior divertimento era justamente inventar novas histórias. E entre as tantas trazidas pela menina em suas andanças estava o dia em que contou ter visto cair do céu uma chuva de flores.
          Com esse simpático argumento, André Neves – premiado ilustrador da nossa literatura infantil – cria a partir de pesquisas nos costumes de diversos grupos étnicos espalhados pelo oeste africano Obax, editora Brinque-Book, 2010. No paradoxo daquela geografia árida estão as cores vivas e alegres que estampam seus objetos, casas e roupas.
          Dedicando o mesmo cuidado e arte pela sua obra, o ilustrador, aqui também autor, carrega de lirismo a narrativa tanto na dimensão verbal quanto visual em perfeito diálogo estético. Um belo livro: digno de fazer chover flores onde pouco chove água.
           
Ficha técnica:
Autor e ilustrador: André Neves
Editora: Brinque-Book
Ano: 2010