Os negros iorubás – também chamados nagôs – embora escravizados, separados da convivência familiar e sem ter direito de trazer seus pertences nos navios negreiros guardaram suas crenças e jamais abandonaram seus deuses, os orixás. São eles que tomam conta de tudo o que acontece na vida dos homens e é sobre esses deuses que Prandi discorre em seu livro Xangô, o trovão, Cia das Letrinhas, 2003.
Num dos maiores reinos da África antiga, chamado Oió, havia um rei soberano e muito justo chamado Xangô. Iansã, uma de suas mulheres, trouxe uma poção mágica que lhe dava a capacidade de botar fogo pela boca. De longe, o povo escutava os ruídos assustadores que acompanhavam as labaredas expelidas por Xangô (p.12). Um dia, porém, errou a pontaria e acertou o próprio palácio fazendo com que os ministros destituíssem-no de seu poder.
Nunca mais foi visto em pessoa e no orum (céu) foi transformado em orixá, respondendo pelas questões de governo e justiça. Mas onde quer que haja alguém que tenha escutado essa história, quando ouve o ronco furioso do trovão, sabe que Xangô está por perto. Ele leva na mão um machado duplo e com ele aplica sua justiça (p. 16).
Os enredos e situações que envolvem esse e outros deuses como Iansã, Exu, Iemanjá, Oxaguiã, Ogum e Oxalá são seguidos das suas características e dos elementos relacionados aos cultos e às oferendas. Diferentemente do que ocorre na mitologia de outros povos, a exemplo dos gregos, nórdicos ou celtas, enfim, é que o conhecimento desses mitos, muitas vezes, causa desconforto e gera preconceito por tratar-se de narrativas vivenciadas ainda hoje nos terreiros das religiões afro-brasileiras. Talvez isso explique um pouco do medo e da discriminação que eles provocam na sociedade de modo geral e prova a relevância de sua publicação para os pequenos.
Ficha técnica:
Autor: Reginaldo Prandi
Ilustrador: Pedro RafaelEditora: Cia das Letrinhas